sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Os Equipamentos Públicos Coletivos e Os Mobiliários Urbanos – Da Criação à Falência.



         A cidade é um organismo onde diferentes funções são exercidas e, portanto, necessita oferecer as condições mínimas necessárias para o atendimento ao que requer a sua população.
         Ao lado da atividade morar, várias outras se perfilam, tornando fundamental a previsão de locais para comércio, hospitais, escolas, segurança pública, esportes, lazer, serviços públicos e outros, surgidos de acordo com as características de cada população.
         Entre as edificações e espaços que atendem as diferentes demandas, os equipamentos públicos coletivos e os mobiliários urbanos possuem especial relevo por assumirem papel de abrangência em relação a todos os segmentos da comunidade local. Qualquer pessoa, de um ou de outro modo e em determinado momento, necessitará ter acesso aos serviços oferecidos.
         Equipamentos Públicos Coletivos são representados por edificações denominadas institucionais, sob administração pública ou privada. Mobiliários Urbanos são instalações inseridas nos espaços urbanos, igualmente de responsabilidade pública ou privada.
         Para que um equipamento público coletivo ou um mobiliário urbano seja previsto é necessária a concorrência de um conjunto de fatores que demonstrem a sua efetiva utilidade naquele local. Não há sentido em se prever atividades onde a demanda não se alinhará, ao mesmo tempo em que seria incompreensível erguer uma edificação ou instalação com nível insuficiente de oferta de serviços em local de grande demanda, existente ou prevista.
         A definição da estratégia de planejamento implica no acesso a dados de natureza geográfica, social, econômica, histórica e cultural, entre outros associados a fatores físicos, espaciais e temporais.
         Contudo, por mais aprofundados e detalhados que sejam os estudos, novos fatores surgem posteriormente, na efetiva utilização destes equipamentos e mobiliários, alheios à pretensão inicial.
A – Equipamentos Públicos Coletivos: Escolas e Hospitais.
         No planejamento original do Plano Piloto de Brasília, as Superquadras foram contempladas, individualmente, com uma escola-classe localizada em seu interior. O objetivo era facilitar o acesso de crianças moradoras do local. De forma semelhante, nas demais cidades do Distrito Federal  diversos lotes foram reservados para este fim.
         Àquela época, o ensino público de excelente qualidade, contido no plano educacional proposto para o DF, garantia a demanda por estas escolas, independentemente de classes sociais.
         Contudo, no decorrer dos anos, houve gradativa redução na qualidade de ensino público. Como resultado, a escola-classe perdeu parte considerável do objetivo de sua criação, ao mesmo tempo em que o vácuo produzido resultou no surgimento de muitas escolas particulares, com acesso de pessoas provenientes de diversas localidades, ocasionando os conflitos no tráfego de veículos, muito conhecidos em qualquer outra grande cidade.
         Os equipamentos hospitalares tiveram histórico semelhante.
         O denominado hospital de base, no centro do Plano Piloto, construído nos primeiros momentos da implantação de Brasília, juntamente com as demais unidades hospitalares localizadas nas demais cidades do DF, nas décadas de 1960 e 1970 respondiam adequadamente à demanda instalada. A excelência se estendia desde as especialidades médicas até a disponibilidade de equipamentos e demais requisitos necessários àquela função.
         No entanto, a gradativa perda da capacidade de oferecer resposta adequada ao que exige o seu próprio objetivo tornou o sistema de saúde basicamente inoperante em diversos sentidos.
         Ao mesmo tempo, de forma semelhante ao ocorrido com o sistema educacional, surgiram diversos estabelecimentos hospitalares de iniciativa privada, aptos ao atendimento de classes sociais mais favorecidas.
B – Mobiliário Urbano: Áreas de Esporte e Lazer.
         A designação Mobiliário Urbano abrange equipamentos de uso coletivo destinados a fins específicos. São instalações fixadas em área pública, com o objetivo de rápido acesso da população a determinados serviços associados aos usos comercial e institucional. As atividades são diversas, entre elas a bancária, os correios, a limpeza pública, a telefonia, os pontos de táxi, as bancas de jornal e os equipamentos de esporte e lazer.
         Especialmente em relação aos espaços para esporte e lazer, duas modalidades chamam particular atenção: as quadras multifuncionais e os playgrounds.
         Desde os projetos originais de Brasília e das demais cidades, locais com estas finalidades foram previstos, sempre em estreita proximidade com as áreas residenciais e de responsabilidade do Poder Público.
         A despeito do estrito objetivo de atendimento comunitário destes equipamentos, lamentavelmente são alvos frequentes de depredações maldosas ou resultantes do mau uso. Incontáveis são as vezes em que o Poder Público recupera estas  áreas e incontáveis, também, são os requerimentos para voltar a recuperá-las.
         Diante destes fatos que envolvem equipamentos públicos coletivos e mobiliários urbanos de iniciativa pública, nos questionamos sobre as razões envolvidas neste processo de constante deterioração.
         A previsão destes elementos, conforme já mencionado, é precedida de estudos técnicos determinantes de sua localização e da capacidade de atendimento com abrangência presente e futura. Contudo, este esforço tem se esvaído no efetivo funcionamento do que foi estrategicamente proposto.
         Muito provavelmente, o conjunto de fatores concorrentes no processo apresenta causa única: a falta de consciência do que representa um bem público.
         Uma vez solucionado este impasse, trabalho que envolve novos modos de organização, operação e uso, fundamentados na consciência do valor coletivo destes elementos urbanos, certamente estaremos a caminho de um nível de atendimento social menos injusto.