Pontos
referenciais da paisagem urbana são elementos inseridos no contexto da cidade,
que têm como objetivo orientar as pessoas em seus deslocamentos.
A função
orientadora pode ser específica de determinados elementos, criados
especialmente para este fim, e pode ser mais uma função atribuída a vários
outros elementos voltados para finalidades diversas.
Os elementos
destinados especificamente a orientar a circulação urbana integram o sistema de
sinalização. São placas, totens e outros artefatos fixados em pontos
estrategicamente previstos, que identificam e
encaminham veículos e pedestres para as diferentes localidades urbanas.
Os pontos
referenciais que, na verdade, foram criados para outras funções, mas se incluem
como significativos marcos orientadores da circulação urbana, são edificações
com características diferenciadas em relação ao entorno, em termos de
dimensionamentos, forma, cor, tempo de construção, posicionamento na malha
urbana e atributos inerentes à sua própria função.
Estas
características podem ocorrer isoladamente em determinado objeto arquitetônico,
ou mesmo em função urbanística que concentre atenção, e podem resultar da
concorrência de vários aspectos em mesmo elemento.
No primeiro
caso estão incluídas, por exemplo, determinadas residências localizadas em
esquinas ou ao longo de ruas, onde cores diferenciadas ou número de pavimentos
ou forma inerente ao objeto podem identifica-las como elementos marcantes no
contexto geral. Também se refere a praças, jardins e edificações com outra
função que não aquela predominante em determinada área, como hospital, escola e
posto de combustível em localidade eminentemente habitacional.
No segundo
caso estão edificações de arquitetura identificada como de período histórico
anterior ao contexto do entorno, onde podem convergir características,
simultaneamente, associadas a aspectos formais, de dimensionamentos e função
que as isolam no meio em que se inserem.
O Distrito
Federal, unidade com profundos vínculos enraizados no planejamento urbanístico
de áreas antes desocupadas, incluiu em sua poligonal duas cidades já seculares.
No
centenário núcleo urbano de Planaltina, de uma antiga praça central dominada
por uma igreja e margeada por edificações históricas, partem arruamentos
paralelos entre si, marcados por estas mesmas estruturas.
O Plano
Piloto, referência em planejamento urbano, possui dois níveis de abrangência
quanto aos marcos orientadores.
Por um lado,
a própria setorização, associada à tipologia das edificações implantadas em
cada uma destas áreas, permite que se isole facilmente as diferentes funções urbanas.
Entretanto,
em um segundo nível, o deslocamento interno a cada setor, considerada a
tipologia uniforme adotada, é marcado por
confusões resultantes da dificuldade em se estabelecer marcos
referenciais.
Embora as
mudanças de princípios geradores de normas urbanísticas venham, ao longo dos
anos, alterando significativamente a tipologia, distanciando-se da rigidez
inicial voltada para a uniformidade, o deslocamento ainda é dificultado. Em
decorrência, o sistema de sinalização urbana constitui-se em elemento
fundamental para a orientação dos deslocamentos, até que a familiaridade do
usuário com a área introduza marcos referenciais na memória.
No caso particular
do núcleo residencial do Guará, a
questão dos referenciais urbanos ainda é um aspecto negativo de difícil
solução.
O projeto urbanístico
do Guará I adotou o desenvolvimento de módulos de idênticas dimensões,
constituindo as denominadas Quadras Internas (QIs).
No momento inicial da formação deste
loteamento, associado aos modelos prontos de edificações residenciais
fornecidos pelo governo distrital aos futuros moradores, foi propiciado a
absoluta uniformidade de todo o território correspondente. Àquela época,
encontrar determinado endereço requeria a ajuda do morador visitado que,
familiarizado com área, formalizava mentalmente os tênues signos que orientavam
para o caminho correto.
Atualmente, mesmo com as alterações
promovidas pelas contínuas revisões atualizadoras de normas urbanísticas e
pelas implantações de edifícios institucionais marcadores da paisagem, ainda é
difícil identificar o caminho a ser seguido para atingir objetivos.
Conclui-se, portanto, que o projeto
urbanístico de uma área é instrumento fundamental na definição dos signos que
irão favorecer ou dificultar a orientação nos deslocamentos urbanos.
A questão dos pontos referenciais não
é tema de simplicidade de tratamento. A abordagem é extensa e profunda por
vincular-se não apenas ao planejamento urbano, mas também a fatores que
extrapolam os limites da objetividade, alcançando o repertório de signos
mentalmente formalizados por cada indivíduo, dependentes de suas
características psicológicas, sua cultura e vivência.
O urbanismo, por si só, não pode
afirmar que determinado projeto soluciona esta questão por ser ocorrência
inerente a aspectos, a um só tempo, objetivos e subjetivos. Uma árvore em uma
esquina pode ser referência para uma pessoa e passar despercebida para outra.
Da mesma forma, uma cor pode ser marcante para alguém, mas sem qualquer
significado para muitos. Por esta razão, o planejamento urbanístico torna-se
importante na diferenciação dos espaços e o planejamento da sinalização urbana
é fundamental na sua identificação.