segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Pontos Referenciais da Paisagem Urbana

                            

            Pontos referenciais da paisagem urbana são elementos inseridos no contexto da cidade, que têm como objetivo orientar as pessoas em seus deslocamentos.
            A função orientadora pode ser específica de determinados elementos, criados especialmente para este fim, e pode ser mais uma função atribuída a vários outros elementos voltados para finalidades diversas.
            Os elementos destinados especificamente a orientar a circulação urbana integram o sistema de sinalização. São placas, totens e outros artefatos fixados em pontos estrategicamente previstos, que identificam e  encaminham veículos e pedestres para as diferentes localidades urbanas.
            Os pontos referenciais que, na verdade, foram criados para outras funções, mas se incluem como significativos marcos orientadores da circulação urbana, são edificações com características diferenciadas em relação ao entorno, em termos de dimensionamentos, forma, cor, tempo de construção, posicionamento na malha urbana e atributos inerentes à sua própria função.
            Estas características podem ocorrer isoladamente em determinado objeto arquitetônico, ou mesmo em função urbanística que concentre atenção, e podem resultar da concorrência de vários aspectos em mesmo elemento.
            No primeiro caso estão incluídas, por exemplo, determinadas residências localizadas em esquinas ou ao longo de ruas, onde cores diferenciadas ou número de pavimentos ou forma inerente ao objeto podem identifica-las como elementos marcantes no contexto geral. Também se refere a praças, jardins e edificações com outra função que não aquela predominante em determinada área, como hospital, escola e posto de combustível em localidade eminentemente habitacional.
            No segundo caso estão edificações de arquitetura identificada como de período histórico anterior ao contexto do entorno, onde podem convergir características, simultaneamente, associadas a aspectos formais, de dimensionamentos e função que as isolam no meio em que se inserem.
            O Distrito Federal, unidade com profundos vínculos enraizados no planejamento urbanístico de áreas antes desocupadas, incluiu em sua poligonal duas cidades já seculares.
            No centenário núcleo urbano de Planaltina, de uma antiga praça central dominada por uma igreja e margeada por edificações históricas, partem arruamentos paralelos entre si, marcados por estas mesmas estruturas.
            O Plano Piloto, referência em planejamento urbano, possui dois níveis de abrangência quanto aos marcos orientadores.
            Por um lado, a própria setorização, associada à tipologia das edificações implantadas em cada uma destas áreas, permite que se isole facilmente  as diferentes funções urbanas.
            Entretanto, em um segundo nível, o deslocamento interno a cada setor, considerada a tipologia uniforme adotada, é marcado por  confusões resultantes da dificuldade em se estabelecer marcos referenciais.
            Embora as mudanças de princípios geradores de normas urbanísticas venham, ao longo dos anos, alterando significativamente a tipologia, distanciando-se da rigidez inicial voltada para a uniformidade, o deslocamento ainda é dificultado. Em decorrência, o sistema de sinalização urbana constitui-se em elemento fundamental para a orientação dos deslocamentos, até que a familiaridade do usuário com a área introduza marcos referenciais na memória.
            No caso particular do núcleo  residencial do Guará, a questão dos referenciais urbanos ainda é um aspecto negativo de difícil solução.
            O projeto urbanístico do Guará I adotou o desenvolvimento de módulos de idênticas dimensões, constituindo as denominadas Quadras Internas (QIs).
No momento inicial da formação deste loteamento, associado aos modelos prontos de edificações residenciais fornecidos pelo governo distrital aos futuros moradores, foi propiciado a absoluta uniformidade de todo o território correspondente. Àquela época, encontrar determinado endereço requeria a ajuda do morador visitado que, familiarizado com área, formalizava mentalmente os tênues signos que orientavam para o caminho correto.
Atualmente, mesmo com as alterações promovidas pelas contínuas revisões atualizadoras de normas urbanísticas e pelas implantações de edifícios institucionais marcadores da paisagem, ainda é difícil identificar o caminho a ser seguido para atingir objetivos.
Conclui-se, portanto, que o projeto urbanístico de uma área é instrumento fundamental na definição dos signos que irão favorecer ou dificultar a orientação nos deslocamentos urbanos.
A questão dos pontos referenciais não é tema de simplicidade de tratamento. A abordagem é extensa e profunda por vincular-se não apenas ao planejamento urbano, mas também a fatores que extrapolam os limites da objetividade, alcançando o repertório de signos mentalmente formalizados por cada indivíduo, dependentes de suas características psicológicas, sua cultura e vivência.
O urbanismo, por si só, não pode afirmar que determinado projeto soluciona esta questão por ser ocorrência inerente a aspectos, a um só tempo, objetivos e subjetivos. Uma árvore em uma esquina pode ser referência para uma pessoa e passar despercebida para outra. Da mesma forma, uma cor pode ser marcante para alguém, mas sem qualquer significado para muitos. Por esta razão, o planejamento urbanístico torna-se importante na diferenciação dos espaços e o planejamento da sinalização urbana é fundamental na sua identificação.