A atividade
atribuída a qualquer edificação refere-se ao modo específico de sua ocupação –
residencial, comercial e serviços, industrial, institucional e rural.
Da mesma
forma, a atividade a que se destina uma área urbana associa-se, intrinsecamente,
ao ordenamento da cidade, onde as atividades são agrupadas pela compatibilidade
que guardam entre si, considerando, ainda, o nível de complementaridade entre
estas diferentes funções.
Nestes
termos, avaliações importantes são feitas na definição da proximidade e o
distanciamento requerido entre os grupos de edificações que constituem as
cidades.
As
residências necessitam da proximidade de comércio e serviços locais, garantida
a tranquilidade da área em termos do fluxo compatível de veículos e silêncio
exigido para a função repouso.
Não se pode,
por exemplo, permitir que bares ou casas noturnas, ou atividades que necessitem
de carga e descarga de mercadorias sejam instalados nas proximidades de áreas
residenciais.
No entanto,
muitas vezes a incompatibilidade se delineia no decorrer dos anos, em
observância a três fatores distintos, mas complementares entre si: Condicionantes
de natureza histórico/cultural; dinâmica de utilização associada à carência por
produtos ou serviços; necessidades financeiras de grupos populacionais dentro
de determinada área.
Esta
ocorrência sustenta-se no hábito historicamente instalado, transformado em
procedimento cultural, de associar as edificações residenciais localizadas no
perímetro externo, nas praças e nas esquinas dos conjuntos urbanos ao uso
comercial.
Não
raramente, a carência da população local por atividades institucionais, como as
relacionadas a creches e estabelecimentos de ensino, acaba por incentivar
a transformação de lotes residenciais em
escolas, provocando forte pressão sobre o tráfego de veículos em toda a
vizinhança, causando severos incômodos.
Igualmente,
nas áreas residenciais surgem pequenos comércios como salões de beleza,
mercearias e bares, muito mais como necessidade de renda do proprietário do
lote do que por carência da coletividade.
Estes
hábitos, culturalmente instalados, remontam a períodos históricos bem remotos,
quando o planejamento urbano praticamente inexistia no país.
Sabemos que
a maioria significativa das cidades brasileiras surgiu de modo espontâneo,
apresentando vielas estreitas para acesso de pedestres e carroças às edificações
que se perfilavam de forma geminada.
Nestes
locais, as atividades comerciais se misturavam às comerciais, aleatoriamente. À
frente dos comércios, construíam uma calçada alta em relação ao piso da rua, o
suficiente para que as carroças encostassem e recebessem as sacas contendo
produtos. Além disso, uma trave horizontal de madeira era usada para amarrar os
arreios dos cavalos dos clientes.
Impressiona
a semelhança com o presente, onde as traves deram origem aos estacionamentos e
os pisos das calçadas altas foram redimensionados para que possam encostar
caminhões, facilitando o seu carregamento.
A
convivência inadequada entre atividades comerciais e residenciais persiste até
a atualidade, trazendo os mesmos e antigos incômodos. A inexistência de vagas à frente de
estabelecimentos resulta em desordem compatível com a inexistência de traves
suficientes para os cavalos da antiguidade.
Mesmo que
nem todos os núcleos urbanos brasileiros admitam intervenções que adequem
edificações, conjuntos arquitetônicos e conjuntos urbanísticos às constantes
transformações podemos afirmar que estas adequações são sempre buscadas pelo
planejamento. Que não sejam as intervenções ideais, mas que sejam as soluções
possíveis, avaliando-se o contexto urbano, arquitetônico e os fatores
histórico/culturais presentes.