Desde há muito tempo leio, vejo e ouço
comentários e declarações emitidas até
por alguns insignes representantes de nossa cultura nacional tratando Brasília
como um mero caldeirão de desmandos, arrogância e corrupção.
Mas que
Brasília é essa que tanto enxovalham e atribuem nódoas indeléveis, desrespeitando
os seus habitantes?
Afirmar
que Brasília é simples local de âmbito político significa absoluto
desconhecimento de suas raízes, maneira de ser e amplitude de sua dinâmica como
núcleo urbano onde vivem milhões de pessoas igualmente atormentadas pelos
absurdos originados em meios que nada têm a ver com a sua população.
Afirmações
desta natureza são flácidas de significado, vazias por si sós, na medida em que
revelam carência de conhecimentos sobre o caráter peculiar da cidade – a imensa
maioria daqueles que aqui chegaram, nas décadas de 1950 e 1960, não era formada
por políticos. Eram, sim, pessoas que aqui vieram trabalhar em diversas
atividades, desde servidores públicos até comerciantes e construtores.
Pessoas
que ensinaram a seus filhos princípios comuns como o respeito aos demais, às
coisas que pertenciam aos outros, fossem patrimônio público ou privado.
Mas
também ensinaram coisas incomuns, que em Brasília seria conhecimento
transmitido: A admiração pela beleza dos traços curvos dos monumentos de
Niemeyer, estimulando-os a tocar aquelas formas, a senti-las, introjetando-as
no eu mais profundo.
Também
ensinaram os caminhos para a familiarização com o traçado urbano de Lúcio Costa,
a usar respeitosamente os amplos espaços livres das superquadras e esticar a o
olhar na direção do horizonte.
Apesar
dos problemas introduzidos no espaço urbano de Brasília, como as agressões dos
assaltos, das drogas e do excesso de veículos nas ruas, entre muitos que
atormentam seus habitantes, Brasília é uma cidade implantada por projeto
urbanístico e ocupada por projetos arquitetônicos, mas, acima de tudo,
construída por seus moradores. Pessoas que aqui moram, trabalham, estudam, amam,
têm filhos, enfim, como acontece em
qualquer cidade brasileira.
Os desmandos
e abusos ocorrem no pequeno âmbito da politicagem descontrolada. Não é mácula
que se amplie sobre a população.
Se a
capital brasileira não fosse aqui, os problemas estariam em outro local. Não
seria justo que os atribuíssemos aos moradores daquela cidade.
Portanto,
livrem-nos dos comentários e declarações que não fazem justiça com a nossa
população e à grandiosidade de nossa arquitetura e urbanismo.
Considerando
que os nossos habitantes são provenientes de todas as unidades da federação
brasileira, é possível utilizar alguns termos
regionais, muito conhecidos por aqui, para expressar a minha indignação:
Ôxxxi!
ViXXXi! Eita! Uai! Cruzes! Ninguém Merece! Pensa num absurdo! Affe Maria, que
isso! Se Ajeitem! Tomem Tento!