terça-feira, 5 de abril de 2016

A Acessibilidade e as Áreas Centrais de Brasília

                         
            O conceito de acessibilidade refere-se, basicamente, às condições adequadas de circulação pelos diferentes locais de um núcleo urbano e entre núcleos urbanos de uma cidade.
            Muito se tem feito para possibilitar os acessos e a livre circulação isenta de barreiras arquitetônicas. Mas, curiosamente, no centro do Plano Piloto o conceito de acessibilidade perde a sua eficácia.
            O Plano Piloto, concebido na década de 1950, quando a busca pela renovação do traçado urbano sobrepujava os condicionantes especificamente humanos, com suas muitas limitações físicas, o relevo da proposta incidiu mais na grandiosidade plástica e formal do que, convenhamos, na qualidade dos percursos de pedestres.
            A concepção urbanística de todo o Plano Piloto foi centrada na Estação Rodoviária de Brasília.
            Proposta absolutamente inovadora sob os aspectos da interelação entre forma, função e acessos ao entorno próximo e remoto, aquela estrutura marca o centro físico do Plano Piloto. De sua base inferior partem os Eixos Monumental e Rodoviário, que cortam a cidade nos sentidos Norte-Sul e Leste-Oeste.
            Implantada em três pavimentos, surpreende pela audácia de ter sido escolhido um marco rodoviário como função centralizadora da capital do país. O que sempre se viu foi o afastamento desta função relativamente às demais atividades urbanas.
            Por sua própria natureza constitui-se em poderoso polo gerador de tráfego, não apenas por sua função,  mas, sobretudo, por ser o elemento urbano direcionador da maioria dos fluxos de veículos que demandam tanto as áreas vizinhas quanto as mais distantes.
            Para que este marco fosse implantado, grandes movimentos de terra foram executados. Esta providência nivelou o térreo com os acessos aos eixos monumental e rodoviário e o terceiro pavimento  com os Setores de Diversões Norte e Sul e suas respectivas vias de acesso.
            Contudo, problemas de acessibilidade, específicos de pedestres, surgiram e se mantiveram.
            Nas proximidades do Setor de Diversões Norte, onde foi construído um dos shoppings mais antigos de Brasília, encontra-se o Setor Hoteleiro Norte. Apesar da relativa proximidade entre os dois setores, entre estas duas áreas formou-se um enorme talude com cerca de dez metros de altura. A sua transposição pelos pedestres que saem dos hotéis em direção ao shopping só é possível através de duas alternativas: ou contornam o talude, numa caminhada considerável, ou descem por uma escada acoplada ao talude, desafiadora de crianças e idosos e proibitiva para pessoas com deficiência de locomoção.
            Outro local igualmente perturbador do ponto de vista da acessibilidade é o Setor Bancário Sul.
            Construído à margem Leste do Eixo  Rodoviário Sul e próximo à Rodoviária, teve as cotas de soleiras das edificações tomadas a partir do nível do Eixo. Em consequência, um talude também muito alto se formou nas bordas do platô onde as edificações foram implantadas.
            O pedestre que sair do térreo destas edificações e atingir o vizinho Eixo Monumental precisa aventurar-se por escada igualmente acoplada ao talude.
            Entretanto, através de veículos tudo é muito fácil e rápido.
            Surpreende, diante do conceito de acessibilidade, que estas barreiras estejam no centro do Plano Piloto. Mas entende-se, diante do momento histórico da implantação da cidade – época em que a indústria automobilística começava a se firmar num Brasil que, até então, andava a pé.