O conceito
de acessibilidade refere-se, basicamente, às condições adequadas de circulação
pelos diferentes locais de um núcleo urbano e entre núcleos urbanos de uma
cidade.
Muito se tem
feito para possibilitar os acessos e a livre circulação isenta de barreiras
arquitetônicas. Mas, curiosamente, no centro do Plano Piloto o conceito de
acessibilidade perde a sua eficácia.
O Plano
Piloto, concebido na década de 1950, quando a busca pela renovação do traçado
urbano sobrepujava os condicionantes especificamente humanos, com suas muitas
limitações físicas, o relevo da proposta incidiu mais na grandiosidade plástica
e formal do que, convenhamos, na qualidade dos percursos de pedestres.
A concepção
urbanística de todo o Plano Piloto foi centrada na Estação Rodoviária de
Brasília.
Proposta
absolutamente inovadora sob os aspectos da interelação entre forma, função e
acessos ao entorno próximo e remoto, aquela estrutura marca o centro físico do
Plano Piloto. De sua base inferior partem os Eixos Monumental e Rodoviário, que
cortam a cidade nos sentidos Norte-Sul e Leste-Oeste.
Implantada
em três pavimentos, surpreende pela audácia de ter sido escolhido um marco
rodoviário como função centralizadora da capital do país. O que sempre se viu
foi o afastamento desta função relativamente às demais atividades urbanas.
Por sua
própria natureza constitui-se em poderoso polo gerador de tráfego, não apenas
por sua função, mas, sobretudo, por ser
o elemento urbano direcionador da maioria dos fluxos de veículos que demandam
tanto as áreas vizinhas quanto as mais distantes.
Para que
este marco fosse implantado, grandes movimentos de terra foram executados. Esta
providência nivelou o térreo com os acessos aos eixos monumental e rodoviário e
o terceiro pavimento com os Setores de
Diversões Norte e Sul e suas respectivas vias de acesso.
Contudo,
problemas de acessibilidade, específicos de pedestres, surgiram e se
mantiveram.
Nas
proximidades do Setor de Diversões Norte, onde foi construído um dos shoppings
mais antigos de Brasília, encontra-se o Setor Hoteleiro Norte. Apesar da
relativa proximidade entre os dois setores, entre estas duas áreas formou-se um
enorme talude com cerca de dez metros de altura. A sua transposição pelos
pedestres que saem dos hotéis em direção ao shopping só é possível através de
duas alternativas: ou contornam o talude, numa caminhada
considerável, ou descem por uma escada acoplada ao talude, desafiadora de
crianças e idosos e proibitiva para pessoas com deficiência de locomoção.
Outro local
igualmente perturbador do ponto de vista da acessibilidade é o Setor Bancário
Sul.
Construído à
margem Leste do Eixo Rodoviário Sul e
próximo à Rodoviária, teve as cotas de soleiras das edificações tomadas a
partir do nível do Eixo. Em consequência, um talude também muito alto se formou
nas bordas do platô onde as edificações foram implantadas.
O pedestre
que sair do térreo destas edificações e atingir o vizinho Eixo Monumental
precisa aventurar-se por escada igualmente acoplada ao talude.
Entretanto,
através de veículos tudo é muito fácil e rápido.
Surpreende,
diante do conceito de acessibilidade, que estas barreiras estejam no centro do
Plano Piloto. Mas entende-se, diante do momento histórico da implantação da
cidade – época em que a indústria automobilística começava a se firmar num
Brasil que, até então, andava a pé.