Planejar uma
cidade é ato de criação envolvendo providências que favoreçam, ao máximo, a
obtenção de boa qualidade de vida pelos habitantes daquele espaço.
Estabelecido
este princípio básico, são delineadas as definições das diretrizes que envolvem
o número previsto de moradores, as áreas
residenciais, as áreas verdes, as áreas comerciais e de prestação de serviços,
industriais, recreativas, serviços públicos, circulações urbanas, enfim, todo o
complexo do ordenamento e das relações definidoras de um núcleo urbano.
Na verdade,
sempre se procuram maximizar a positividade das interações e, naturalmente,
minimizar os conflitos gerados por estas mesmas interações.
Cada área,
independente do uso/atividade a que se destina, tem os lotes definidos quanto à
localização, áreas e dimensões, compatíveis com as necessidades de
funcionamento resultantes.
Da mesma forma, o planejamento de
acessos (veículos e pedestres), dimensionamento de calçadas e vias, redução de
conflitos de interações, as áreas verdes, as ¨non aedificandi¨, os afastamentos
obrigatórios e outras normatizações, visam a eliminar ou atenuar futuros
conflitos decorrentes do uso e da dinâmica urbana.
Mas
alguns fatores envolvidos na questão são de difícil controle. Curiosamente,
estão sempre presentes em vários núcleos urbanos e persistem, teimosamente, no
decorrer de anos.
1
– Calçadas Públicas: Os dimensionamentos, embora suficientes para as diferentes
atividades, em inúmeros casos são reduzidos por avanços de edificações sobre
área pública, pela implantação de posteamento da rede elétrica, por lixeiras instaladas
incorretamente, por totens e placas de publicidade e, até mesmo, por plantio de
árvores fora dos limites do lote.
Em
algumas circunstâncias, são construídas coberturas ou marquises desaguando
sobre área pública, prejudicando as calçadas, além de aparelhos de ar
condicionado e suas descargas de água sobre os transeuntes.
2 – Sistemas de Eletricidade em
Espaço Aéreo: Este é um antigo problema, já solucionado desde a década de 1960
em outros países e também no Brasil, através do enterramento, mas que persiste
na maioria de nossas cidades.
Questão associada às dificuldades
financeiras dos Estados e Municípios implica não apenas na sofrível estética
das nossas cidades, mas também na segurança dos seus habitantes, que vez por
outra morrem vítimas de descargas elétricas.
3 – Sinalização Urbana: A ausência
total ou a omissão de informações dificultam, sobremaneira, a circulação em
muitos núcleos urbanos. Não há como falar de mobilidade urbana, no seu sentido
pleno, sem solucionar este aspecto sombrio das cidades.
Questão também associada à carência
de recursos públicos termina por obrigar os usuários frequentes a estabelecerem,
forçosamente, pontos referenciais na paisagem. Mas para quem não conhece o
local as dificuldades de locomoção resultam consideráveis.
4 – Pavimentação de Vias sem
Instalação de Rede de Captação de Águas Pluviais: Problema frequente nas
cidades brasileiras, também é associado à dificuldade de recursos públicos.
Como
resultado desta implantação ineficiente, são comuns as enxurradas que alagam os
pontos mais baixos das cidades e provocam a destruição do asfalto.
Estas
questões se originam não apenas na insuficiência de recursos públicos, mas
também na inadequada relação entre as diferentes unidades que compõe o sistema
de gestão pública.
Um
planejamento urbano adequado não pode prescindir da multidisciplinaridade desde
a sua concepção primordial, integrando os diversos agentes envolvidos na
estruturação de um núcleo urbano. E mais, esta integração deve persistir por todo
o processo da dinâmica das cidades. Além, é claro, da conscientização dos seus
habitantes.
Com
certo nível de certeza, podemos afirmar que a implantação de posteamento não
derivou do conhecimento prévio do princípio de geração de um loteamento. O desague
em área pública, proveniente de coberturas e marquises, não previu o incômodo
causado aos transeuntes nas horas de chuva. E por aí vai...