Muitas são as designações
atribuídas aos arquitetos e urbanistas através do tempo. Mas todas
são embasadas em suas atividades técnicas.
Por atividade técnica entende-se a
perícia em determinado ofício, arte ou ciência. O técnico é o
perito, o conhecedor dos caminhos e meandros que levam a determinado
resultado.
Em arquitetura e urbanismo, o
técnico reúne e articula os conhecimentos que detém sobre a
criação de espaços e a interação entre eles, integrando estes
elementos na conformação do todo, seja uma edificação ou um
conjunto delas, seja um trecho de núcleo urbano ou uma cidade por
inteiro.
Neste processo incluem-se diversos
fatores e seus diferentes aspectos, desde que os culturais,
artísticos e sociais até os econômicos, políticos, tecnológicos
e legais, sob a ótica do tempo e lugar. O objetivo é o resultado
melhor possível, dentro dos pressupostos fundamentais que permeiam
todo o processo, minimizando ao máximo os impactos negativos que
qualquer intervenção repica sobre a realidade urbana.
A visão atribuída ao técnico,
arquiteto e urbanista, sempre se baseia nas linhas traçadas sobre o
papel, determinantes da transformação do vazio, em espaços
materializados em elementos construtivos, seja um lote ou qualquer
área desocupada.
Mas não se pode restringir a visão
apenas aos resultados. Aos profissionais de arquitetura e urbanismo
cabe a responsabilidade de transitar por um vasto universo repleto de
opções, acolhendo ou rechaçando possibilidades, subordinando as
escolhas ao arcabouço estabelecido pelos objetivos a atingir, pelos
meios disponíveis, pelo tempo e lugar da intervenção.
Exatamente neste ponto, repleto de
interrogações, a atividade do técnico mergulha no tempo do
contador de histórias.
Não se pode atuar sem conhecer as
características de uma cidade, as razões daquelas características,
o modo de ver e apreender a que a população se habituou – fator
dependente da sua história.
Ao urbanista que propõe as normas
de uso, ocupação e parcelamento do solo, o conhecimento aprofundado
da história da cidade, incluindo o que foi realizado de maneira
positiva e o que impactou negativamente é fundamental para o
lançamento da perspectiva, da visão a médio e a longo prazo,
reduzindo significativamente as possibilidades de resultados
indesejáveis.
Neste momento exato é que o
urbanista revela a face do contador de histórias, num conto
codificado urbano e regional.
A história é contada através do
Memorial Descritivo que acompanha e integra o Projeto Urbanístico e
revelada nos índices adotados.
Ao urbanista também reserva-se a
face poética. O modo de organizar, de justapor, de aproximar, de
abrir e fechar espaços, de definir horizontes , alturas e
volumetrias, de criar as áreas
verdes, os percursos de veículos, os caminhos dos pedestres, revelam
uma face estética complexa que resulta no modo de viver de uma
população, definindo a sua qualidade de vida, estabelecendo os
fundamentos de seu bem estar.
Ao arquiteto e ao seu modo de
edificar atribui-se a dimensão do contador de histórias no momento
em que traduz os princípios de uma cultura, em seu espaço e tempo.
Neste processo transmite, de forma construtiva, toda a bagagem
historicamente acumulada da maneira de morar, trabalhar, divertir-se,
estudar e outras atividades culturalmente instaladas.
A dimensão poética do seu
exercício profissional é traduzida no resultado estético de sua
obra, uma poesia verticalizada sobre o solo, dotada de ritmo, rima,
estrofes e movimento, quase uma música, suave e vigorosa aos
sentidos de quem quer ver e ouvir.