Partido
Arquitetônico
O significado
de partido arquitetônico se relaciona, intrinsecamente, ao significado de
projeto arquitetônico.
Projetar uma
edificação significa estabelecer um plano para construir determinada obra.
Planejar, por
sua vez, significa definir um caminho que objetiva atingir determinado
resultado. Trilhar este caminho implica na escolha de estratégias a serem
adotadas.
De acordo com
estes princípios, executar uma obra – o fim a ser atingido – exige um
planejamento onde interagem diversos fatores a serem considerados, variáveis
com o que se pretende da obra estabelecida como meta.
Cada tipo de
obra, de acordo com o seu uso e atividade, representa uma meta diferente. O
tratamento dado a uma residência unifamiliar difere do atribuído à residência
multifamiliar, da mesma forma que ambas divergem das edificações comerciais e
seus diversos tipos, das edificações industriais e das rurais que, igualmente,
são divergentes entre si.
Planejar uma
obra implica, portanto, em conhecer previamente o campo de trabalho – o objeto,
seu uso e atividade, dimensões e programa desejado, além de outros aspectos
envolvidos. O plano de trabalho a ser definido vincula-se a estes dados. A
partir deste ponto estamos, então, projetando a edificação.
Projetar
significa, portanto, lançar o princípio gerador para fora do planejador, para a
realidade objetiva, dando vida àquele arcabouço, como um projetor faz com o filme
após o registro das câmeras, após a montagem, após serem introduzidos os
efeitos técnicos que interferem com o resultado final.
O projeto tem o
mesmo significado. A sua qualidade está em se saber reunir, de forma lógica e
estética, todas as cenas, de modo coerente com o objetivo final pretendido.
O partido
arquitetônico é, portanto, a liga que reúne todos estes pontos em uma urdidura
lógica. É a “assinatura” do resultado previsto. Um DNA que determina as
características de cada indivíduo, materializado em cada obra.
Implícito
nestes princípios está o entendimento de que a intervenção de quem projeta não
se inicia no projeto acabado. Bem opostamente, nele se encera.
Através do
projeto arquitetônico é possível enxergar, com intensa nitidez, toda a gama de
estratégias adotadas por quem o elaborou. Identifica-se a linguagem usada em
sua concepção, possibilitando antever a relação entre as partes na constituição
do todo, enquanto organismo associado a determinado uso e atividade e sua forma
de inserção e interação com o entorno imediato e mais remoto.
Engana-se, em
absoluto, quem supõe que a mera aposição de nomes sobre quadros representativos
de compartimentos que compõe o projeto arquitetônico seja ato capaz de iludir o
observador. Basta que, simplificadamente, se raciocine como um analista de
qualquer organograma de funcionamento institucional, onde as relações de
hierarquização e interdependência atendem a um claro objetivo, interno e
externo àquele organismo.
Partido
arquitetônico não é, portanto, uma “entidade mística”, um ser variável em
características e posicionamento, flutuante pela mente do observador desvairado
de um projeto arquitetônico.
Partido
arquitetônico é instrumento real, de raízes profundas, que alicerçam um projeto.
É o princípio básico que se usa, depois de coletadas as informações
necessárias, para estabelecer um programa que atenda aos pré-requisitos obtidos
– as relações de proximidade entre funções e seus fundamentos socioculturais, a
“costura” entre as diferentes funções na composição do tecido, os acessos desde
o exterior da edificação e sua compatibilização com as áreas criadas,
hierarquicamente propostas na composição, de modo a se obter um todo coerente,
dotado de vetores que dão sentido aos movimentos.