quinta-feira, 5 de julho de 2018

História Arquitetônica, Urbanistica e Cultural Brasileira – A Consciência Adormecida



         O Brasil teve sua história iniciada no princípio do século XVI. Passada a fase das construções em taipa e pau-a-pique, aos poucos se formaram aglomerados populacionais onde as edificações assumiram sucessivas características de estilos arquitetônicos e modos de fazer o urbanismo.
         Decorridos cinco séculos desde então, muitos foram os modelos e princípios arquitetônicos adotados nos diferentes períodos históricos, abrangendo os usos residencial, comercial, público e coletivo.
         As capitais mais antigas, como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, da mesma forma que cidades menores localizadas no interior ou no litoral do país, são repletas de diversidades traduzidas na história da Arquitetura e no modo de escrever o urbanismo.
         Esses caldeirões culturais, de beleza e importância inequívocas, resvalaram, no decorrer do tempo, para o precipício escuro do abandono. Observar as antigas construções, sobretudo as residenciais e comerciais, provoca imenso pesar.
         Em algumas cidades, as edificações destinadas ao uso público e coletivo receberam tratamento adequado. Percebem-se cuidados especiais na revitalização de toda a área e na manutenção destes monumentos históricos, recuperando-se a estrutura, vedações e elementos ornamentais deteriorados pelo tempo.
          Em muitos casos, foram destinadas a funções compatíveis com o espaço arquitetônico disponível, com discretas alterações adaptativas, sem comprometer as características originais.
         Mas as edificações residenciais e comerciais não tiveram sorte semelhante.
          Um rápido passar de olhos identifica objetos arquitetônicos decadentes, de alta periculosidade estrutural para a permanência humana – e muitos são efetivamente ocupados – ainda erguidos ao lado de ruínas abandonadas, desabadas em pedaços relegados ao lixo inerte de nossa história.
         A procura pelas causas desse desastre urbano nos encaminha para a insuperável carência governamental de recursos financeiros.
         Qualquer pesquisa jornalística realizada junto à população identifica os problemas crônicos de nossa sociedade: Segurança, educação e saúde. Em seguida, outro foco se impõe: Moradia, emprego e transporte.
         Estes seis focos nos assombram permanentemente como um monstro de seis tentáculos, infernizando a vida nacional.
         Mas a cabeça desse ser hediondo onde se encontra? Simples: Na falta de recursos financeiros governamentais. A ladainha é sempre a mesma.
         Entretanto, mesmo que num passe de máquina – não de mágica – esses problemas fossem resolvidos, restaria uma questão fundamental: O respeito devido à nossa história e, em especial, à história traduzida nos elementos arquitetônicos e urbanísticos que pedem socorro à beira das calçadas e ruas do país.
         Os esforços dos órgãos governamentais que atuam na área patrimonial histórica e cultural são muitos. Mas, constantemente, esbarram na cabeça do monstro de seis tentáculos. O que é histórico e cultural nesse país é, quase sempre, relegado a planos inferiores.
         As nossas riquezas históricas e culturais, com suas múltiplas linguagens surgidas a cada esquina, pulando à nossa frente, são absolutamente desconsideradas. Seus gritos são surdos e as imagens cegas. Ninguém se importa.
         O foco central é construir coisas novas, bonitas e financeiramente atrativas.
         Mas uma “pequena” coisa é esquecida nesse contexto: O que hoje é novo, bonito e rentável amanhã poderá ser velho, feio e abandonado. Perderá seus atavios, puirá como roupa desgastada, sairá da “trágica” moda de seu tempo e se fará em farrapos.
         Lamentavelmente, o mesmo poderá ocorrer com Brasília.
      Tombada como patrimônio histórico e cultural, a despeito dos permanentes cuidados inspirados em sua condição, um dia poderá desmontar-se. Os primeiros sinais já soaram: O desabamento de trecho localizado no Eixo Rodoviário Sul. O tempo pode ser profundamente destrutivo se não nos anteciparmos aos seus efeitos.
         O Plano Piloto de Brasília teve muitas de suas edificações construídas na década de 1960. No início destes anos já se encontravam quase totalmente concluídas as obras do Teatro Nacional e as edificações da Praça dos Três Poderes, inclusive  Ministérios. O mesmo ocorreu com muitas Superquadras da Asa Sul, em especial as SQS 105, 305 e 308.
         A Estação Rodoviária, marco principal do Plano Piloto, estava pronta e em pleno funcionamento em 1960. O mesmo ocorreu com o sistema viário de seu entorno, incluindo a passagem subterrânea de veículos e os acessos, em nível elevado, que dirigem às áreas superiores.
         Reformas e manutenções destes conjuntos arquitetônicos e obras de arte se sucederam nessas quase seis décadas – providências que podem impedir que tenham o triste destino das outras edificações históricas brasileiras. Mas basta um pequeno descuido  para que os efeitos do tempo promovam colapsos.
         Nada pode ser tão eficiente quanto a inconsciência histórica e cultural no processo de redução de conceitos a punhados inexpressivos de pedra e areia.