Recentes matérias veiculadas pela mídia informam sobre uma
reunião a ser realizada em São Paulo, quando serão discutidas propostas de
soluções para graves impasses de grandes núcleos urbanos.
A dicotomia contida no conceito de urbano, enquanto local que
atenda satisfatoriamente as necessidades e anseios da população, mas que
esbarra na complexa circunstância do péssimo atendimento à demanda gerada pelo
crescimento populacional, representa fator relacionado, entre outros, à má
gestão dos condicionantes do transporte coletivo e individual, às distâncias
entre casa e trabalho e a dificuldade em prover as pessoas de espaços adequados
à circulação, à convivência e à permanência, sobretudo em áreas centrais.
Embora exista a preocupação atual em abordar coletivamente
esta questão, a verdade é que estes problemas urbanos se anunciam desde as
distantes décadas iniciais do século XX. As dificuldades já se esboçavam em
grandes cidades e a visão de um futuro caótico não era privilégio de poucos.
Uma megalópole como São Paulo, a mais densa e, portanto, a
mais problemática dentre os núcleos urbanos brasileiros, exige tratamento que
combine ações, a um só tempo, urbanísticas e ambientais, considerado o caráter
indissociável entre estas duas áreas do conhecimento.
O distanciamento imposto entre estas duas faces, ocorrido ao
longo de vários anos, revelou-se quando da busca de soluções para o crescente
tráfego urbano, período em que se fizeram necessárias aberturas e alargamentos
de vias de circulação de veículos e a criação de mais e mais áreas destinadas a
estacionamentos públicos. O prejuízo recaiu sobre as áreas verdes suprimidas,
implicando diretamente no mal estar da população, no momento em que subtraiu
áreas de circulação de pedestres, de convivência e de permanência, ao mesmo
tempo em que promoveu níveis crescentes de poluição.
A difícil equação a ser montada e solucionada, em busca da
melhoria das condições da população urbana, deve incluir, entre outros
elementos, o respeito à propriedade privada, mas também revendo dados como a
concentração de ações sobre o transporte público coletivo, quando se sabe que
este meio de deslocamento, por mais importante e estratégico que seja,
certamente não será único, mesmo que
desejável e essencial.
Dificilmente, na história futura deste país, e em especial em
um núcleo urbano como São Paulo, haverá a completa substituição dos veículos
individuais pelos coletivos. O hábito do transporte individual é profundamente
arraigado à cultura da população, além da necessidade de inúmeras pessoas em
circular fora do eixo casa-trabalho, inclusive por razões de trabalho. Muito
provavelmente, o transporte público não responderá a estas necessidades em
prazo curto, como desejaríamos.
Necessário, portanto, será repensar as centralidades urbanas
como se apresentam, em um processo de aproximação estreita entre o urbano e o
ambiental.
A título de pequena contribuição, poderíamos pensar em duas
intervenções simultâneas que, conjuntamente, poderiam amenizar os enormes
problemas com que lidamos:
Por
um lado, a realização de estudos sobre a previsão, em futuros e atuais
parcelamentos e edificações, o resgate da importância da criação e da reimplantação de áreas verdes, em coberturas
de edificações e ao nível do solo. Isto inclui os estacionamentos públicos. Uma
antiga norma urbanística do Plano Piloto de Brasília prevê a possibilidade de
introdução de uma árvore a cada duas vagas para veículos. Basta, portanto, que
se defina o tipo de árvore a ser adotada, com caules finos, copa frondosa e raízes
adequadas à localização.
Por
outro lado, poderia ser repensado o antigo hábito de trazer os funcionários
para as sedes das empresas, quando muitas atividades atuais prescindem desta
presença. Seriam providências em parceria público-privada, com melhor
aproveitamento dos recursos oferecidos pelos computadores e pela internet, como
meio de reduzir os deslocamentos urbanos.
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