No Brasil, desde o início da implantação de suas cidades, à
semelhança do ocorrido na Europa, são previstas praças em pontos específicos do
tecido urbano.
Como pulmões arrefecendo o efeito das densidades construtivas,
as praças surgem como “clareiras” aliviando a compressão de centros urbanos e
de qualquer aglomerado, seja qual for a destinação de cada área.
Algumas praças se tornaram muito conhecidas: No Rio de
Janeiro, a Praça da Bandeira e a Praça Quinze. Em São Paulo, a Praça da
República e a Praça da Sé. Em Salvador, a Praça Castro Alves e, em Brasília, as
Praças dos Três Poderes e 21 de Abril. Todas elas se caracterizam como fortes
pontos referenciais urbanos, além da função específica de, a um só tempo,
segmentar e integrar o tecido urbano, associando edificações que acabam por
desembocar sobre aquele ponto de parada dos movimentos.
Desde há muito, as praças são ocupadas por equipamentos
públicos comunitários ou urbanos, mobiliários e monumentos relacionados às
atividades de lazer, esportivas, cívicas, sociais e de repouso.
Nesta direção, são concebidas, cada qual, de acordo com as
destinações das áreas vizinhas. Se residenciais, são previstos playgrounds e
quadras esportivas. Se em áreas centrais ou cívicas, instalam-se monumentos e
chafarizes. Nas mais antigas, foram construídas igrejas e coretos. Mas, quase
em todas elas, são instalados bancos e criados jardins, elementos destinados a
propiciar o repouso.
Nas décadas de 1940 a 1960, as praças localizadas em áreas residenciais
eram ativamente utilizadas pela população, sobretudo à noite, nos finais de
semana. Mesmo as que não dispunham de playgrounds atraíam pessoas em quantidade
suficiente para a ocupação de todos os bancos, enquanto as crianças brincavam.
Tudo era cuidadosamente preservado, incluindo os bancos e jardins.
As praças das áreas centrais eram locais para exposição de
literatura e arte. Os transeuntes cessavam momentaneamente os seus afazeres,
sentando-se nos bancos entre jardins, para apreciar o conteúdo exposto, muitas
vezes para inteirar-se de alguma obra.
Hoje, entretanto, as referências mudaram sensivelmente. As
praças transformaram-se em locais de alta periculosidade.
Quando se projetam praças, evitam-se barreiras visuais
passíveis de ocultar pessoas capazes de por em risco a vida dos passantes.
Na verdade, os jardins acabaram por se transformar, à noite,
em elementos que projetam sombras perigosas. Os bancos, por sua vez, ou são
ocupados por quem não deseja a aproximação dos demais ou são destruídos por
vândalos.
As questões que se colocam são as mesmas aplicadas a um
viajante posicionado em um entroncamento sem sinalização:
Até que ponto o urbanismo deve permanecer na
direção culturalmente instalada, criando praças nas mesmas tipologias
conhecidas? O urbanismo deve aceitar a interferência dos profundos problemas
sociais que, a cada período, emergem com maior intensidade, ou deve persistir
em seu caminho independente, interagindo com outras áreas do conhecimento e com
a população, sempre buscando as melhores formas para o atendimento de todos? Ou
existe uma alternativa que permeie estas questões?