A designação
“puxadinho” é dada à obra de modificação com acréscimo em edificações, sem
planejamento e sem Alvará de Construção. Muito comum no Brasil, o “puxadinho” é
ocorrência há tantos anos entranhada nos hábitos da população que, certamente,
é possível afirmar que já se inclui na categoria de costume culturalmente
instalado.
No Brasil
colônia, o projeto da casa sede era cópia dos projetos construídos em Portugal.
A afirmação
contida em uma carta remetida àquele país, ainda à época do descobrimento,
informava que o relevo das terras brasileiras se assemelhava a território de
cabritos. Obviamente, se referia às abruptas diferenças de níveis visualizadas
no litoral de Salvador. Em consequência, podemos afirmar, com certa margem de
segurança, que a implantação dos projetos portugueses para as casas sede teria
que sofrer adaptação a um solo muito desnivelado, proporcionando o aproveitamento
de espaços sob o pavimento térreo com porões, logo, um “puxadinho”.
Da mesma
forma, a ocupação dos quintais destes lotes com edificações destinadas a senzalas
e serviços, não se duvide, também podiam se caracterizar como escandalosos “puxadinhos”.
Em Salvador,
na década de 60, importantes edificações institucionais datadas do período
colonial mantinham intactos os corpos do prédio, mas ao fundo, havia “puxadinhos”
caracterizados como áreas para serviços necessários ao modo de funcionamento da
instituição naquele período.
No Rio de
Janeiro, nas décadas de 40 e 50, foram construídas habitações populares de
finalidade social, constituindo bairros quase inteiros, implantadas em lotes de
grandes dimensões.
O programa
arquitetônico das minúsculas residências incluía apenas a sala de estar, dois
quartos, banheiro e cozinha. O recuo frontal era de, aproximadamente, 10m e o
posterior, cerca de 30m.
Neste
programa, a inexistência da indispensável área de serviço foi um forte motivo
que impulsionou os moradores à construção de “puxadinhos” para abrigar esta
função. Ao mesmo tempo, a diminuta cozinha, com não mais de 4m², era
insuficiente para as suas próprias finalidades.
Considerando
que os núcleos familiares de baixa renda, daquela época, eram bem numerosos e
considerando que não se dispunha das facilidades tecnológicas atuais, a área de
serviço exigia grandes dimensões e a cozinha precisava de espaço compatível com
as suas funções. Fato agravado pela insuficiência de quartos para comportar
tantas pessoas.
Como
resultado, todas as casas, que não eram poucas, tinham “puxadinhos” em sua
parte posterior, ocupando cerca de 40m², onde eram construídos, pelo menos,
mais dois quartos, a área de serviço e a extensão da cozinha, local onde realmente
se cozinhava.
Estes “puxadinhos”
abrigavam uma grande mesa, adequada ao tamanho da família, impossível de ser
acomodada na pequena sala de estar.
Por diversas
razões, a construção de “puxadinhos” sempre foi, de certa forma, induzida e até
mesmo estimulada.
Além das
razões já expostas, outras se alinham, bem contemporâneas, como a dificuldade
da população de baixa renda de ter acesso aos serviços de arquitetos e
engenheiros. Já passa da época de se pensar em alterar esta realidade, apesar
de alguns bons e conscientes profissionais se solidarizarem nesta direção.
Mesmo no
âmbito das classes sociais média e alta, com certa frequência são construídos “puxadinhos”,
ação que não exclui, sequer, edificações destinadas a habitações coletivas,
institucionais e industriais.
Portanto,
até mesmo arquitetos e engenheiros, vez por outra, fazem os seus “puxadinhos”,
só que bem elaborados e estruturados. Consequentemente, quem nunca fez um “puxadinho”,
que jogue a primeira brita.
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