quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Teoria e História do “Puxadinho”

                                

            A designação “puxadinho” é dada à obra de modificação com acréscimo em edificações, sem planejamento e sem Alvará de Construção. Muito comum no Brasil, o “puxadinho” é ocorrência há tantos anos entranhada nos hábitos da população que, certamente, é possível afirmar que já se inclui na categoria de costume culturalmente instalado.
            No Brasil colônia, o projeto da casa sede era cópia dos projetos construídos em Portugal.
            A afirmação contida em uma carta remetida àquele país, ainda à época do descobrimento, informava que o relevo das terras brasileiras se assemelhava a território de cabritos. Obviamente, se referia às abruptas diferenças de níveis visualizadas no litoral de Salvador. Em consequência, podemos afirmar, com certa margem de segurança, que a implantação dos projetos portugueses para as casas sede teria que sofrer adaptação a um solo muito desnivelado, proporcionando o aproveitamento de espaços sob o pavimento térreo com porões, logo, um “puxadinho”.
            Da mesma forma, a ocupação dos quintais destes lotes com edificações destinadas a senzalas e serviços, não se duvide, também podiam se caracterizar como escandalosos “puxadinhos”.
            Em Salvador, na década de 60, importantes edificações institucionais datadas do período colonial mantinham intactos os corpos do prédio, mas ao fundo, havia “puxadinhos” caracterizados como áreas para serviços necessários ao modo de funcionamento da instituição naquele período.
            No Rio de Janeiro, nas décadas de 40 e 50, foram construídas habitações populares de finalidade social, constituindo bairros quase inteiros, implantadas em lotes de grandes dimensões.
            O programa arquitetônico das minúsculas residências incluía apenas a sala de estar, dois quartos, banheiro e cozinha. O recuo frontal era de, aproximadamente, 10m e o posterior, cerca de 30m.
            Neste programa, a inexistência da indispensável área de serviço foi um forte motivo que impulsionou os moradores à construção de “puxadinhos” para abrigar esta função. Ao mesmo tempo, a diminuta cozinha, com não mais de 4m², era insuficiente para as suas próprias finalidades.
            Considerando que os núcleos familiares de baixa renda, daquela época, eram bem numerosos e considerando que não se dispunha das facilidades tecnológicas atuais, a área de serviço exigia grandes dimensões e a cozinha precisava de espaço compatível com as suas funções. Fato agravado pela insuficiência de quartos para comportar tantas pessoas.
            Como resultado, todas as casas, que não eram poucas, tinham “puxadinhos” em sua parte posterior, ocupando cerca de 40m², onde eram construídos, pelo menos, mais dois quartos, a área de serviço e a extensão da cozinha, local onde realmente se cozinhava.
            Estes “puxadinhos” abrigavam uma grande mesa, adequada ao tamanho da família, impossível de ser acomodada na pequena sala de estar.
            Por diversas razões, a construção de “puxadinhos” sempre foi, de certa forma, induzida e até mesmo estimulada.
            Além das razões já expostas, outras se alinham, bem contemporâneas, como a dificuldade da população de baixa renda de ter acesso aos serviços de arquitetos e engenheiros. Já passa da época de se pensar em alterar esta realidade, apesar de alguns bons e conscientes profissionais se solidarizarem nesta direção.
            Mesmo no âmbito das classes sociais média e alta, com certa frequência são construídos “puxadinhos”, ação que não exclui, sequer, edificações destinadas a habitações coletivas, institucionais e industriais.

            Portanto, até mesmo arquitetos e engenheiros, vez por outra, fazem os seus “puxadinhos”, só que bem elaborados e estruturados. Consequentemente, quem nunca fez um “puxadinho”, que jogue a primeira brita.

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